História
A Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Marvão, criada na década de 50 do século XX, extinta passadue só viria a renascer no início do século XXI.
Segundo Fernando da Cruz Carita, octogenário e vogal da direção dos Bombeiros de Marvão na sua génese, o principal impulsionador dos Bombeiros Voluntários de Marvão foi Teófilo Moreira Marques que, na década de Quarenta, exercia na vila de Marvão o cargo de farmacêutico municipal. Devemos ainda referir o papel preponderante do então Presidente da Câmara, Manuel Berenguel Vivas, pessoa que, segundo Fernando Carita, tinha “muitos conhecimentos em Lisboa” foi responsável por angariar verbas e a documentação necessária à criação do Corpo de Bombeiros. Outra figura de destaque é ainda José Gomes Esteves, o então chefe da secretaria da Câmara Municipal de Marvão e responsável pelos indispensáveis contactos estabelecidos com o Governo Civil de Portalegre. Os Bombeiros de Marvão surgiram assim, e à imagem de muitas outras corporações espalhadas pelo país, com fortes ligações ao município onde se encontravam inseridas.
Através da análise da correspondência trocada entre a Câmara Municipal de Marvão e a Inspecção de Incêndios da Zona Sul, podemos comprovar que até ao final da década de 40 continuaram os esforços tendentes à criação do Corpo de Bombeiros Marvanense, nomeadamente ao nível burocrático, esforços estes que finalmente culminaram com a sua aprovação pelo alvará nº 22 de 13 de Julho de 1950 do Governo Civil de Portalegre.
Aprovada legalmente em Julho de 1950, a Associação de Bombeiros Voluntários de Marvão tratou imediatamente de adquirir equipamento, sede própria e, inclusive, de contratar um funcionário.
Com o apoio do Comissariado do Desemprego, o funcionário designado para trabalhar como escriturário na Associação foi Manuel Carrilho Sapage, residente na Vila de Marvão. A ele lhe competiu, entre 1951 e 1954, fazer diariamente a escrituração, correspondência, orçamentos e elaboração de contas.
Confirmando que o ano de 1951 foi de facto o mais activo para os Bombeiros Voluntários de Marvão, temos então a aquisição de um imóvel para sede da corporação. A Associação conseguiu adquirir este imóvel através das quotas pagas pelos sócios (2.50 escudos por mês) e das entregas feitas pela Câmara Municipal relativas ao imposto de incêndios.
Pensando na possibilidade de assegurar também o serviço de saúde, os Bombeiros de Marvão tentaram ainda, em Agosto de 1951, e junto do Subsecretário da Assistência, diligenciar a concessão de um subsídio para a compra de uma ambulância. A aquisição deste meio de transporte era de extrema importância, uma vez que a vila dista 22 km da sede do Distrito, havendo apenas um carro de aluguer no concelho, sendo que, nem todos suportar as despesas. Esta justa pretensão acabou por nunca se efetivar.
Em Junho de 1951, Carlos Maria Chagas, então Presidente da Comissão Administrativa da Associação de Bombeiros Voluntários de Marvão, remeteu à Inspecção de Incêndios da Zona Sul um ofício onde se comunicava os nomes do primeiro e segundo comandantes do Corpo de Bombeiros.
Sem surpresas, a nomeação para Primeiro Comandante recaiu em Teófilo Moreira Marques, químico farmacêutico analista, natural de São Pedro de Alva e nascido em 1910. Para Segundo Comandante foi escolhido António Eduardo Diabinho Martins, subdelegado da Intendência Geral dos Abastecimentos, natural da freguesia de São Lourenço, em Portalegre, nascido em 1922.
Foi-nos impossível apurar se algum dos comandantes escolhidos tinha formação ou experiência no combate aos incêndios; fica, contudo, registado, a título de curiosidade, o testemunho de Fernando da Cruz Carita acerca do referido Primeiro Comandante:
“Teófilo Moreira Marques foi o comandante de uma corporação que teve poucos bombeiros, no entanto, depressa adquiriu uma farda de bombeiro para ele e outra para a sua mulher, D. Catarina. Quando saía para fora em representação dos Bombeiros, nomeadamente para Valência de Alcântara, em Espanha, ia sempre fardado e por conseguinte toda a gente lhe prestava continência. O que poucos sabiam era que este farmacêutico de profissão, que eu me lembre, nunca saiu para apagar um fogo.”
Com sete bombeiros, dois comandantes e cerca de 36 sócios da Associação, não será complicado perceber a dificuldade que foi manter a corporação ativa.
Ao mesmo tempo, o Presidente da Câmara Municipal de Marvão e também Presidente da Direcção da Associação dos Bombeiros Voluntários, Manuel Berenguel Vivas, enviou ofício ao Exmo. Sr. Governador Civil do Distrito de Portalegre propondo a dissolução da Associação, pretensão esta que viria a ser adiada ainda por mais um ano: “o reduzido número de habitantes na sede do Concelho obriga a Associação a organizar-se em moldes diferentes de outras congéneres o que dá motivo a dificuldades que não podem ser resolvidas com a prontidão desejada pelo Conselho Nacional dos Serviços de Bombeiros(…). Aconselhado pessoalmente por V. Exa. a reconsiderar sobre esta dissolução, cumpre-me manifestar-lhe que durante mais um ano vamos pensar levar a efeito uma organização eficiente da referida Associação de Bombeiros”.
Não conseguimos apurar quais as dificuldades por que passou a Câmara, no entanto, 1956 foi decidido transformar os seus bombeiros voluntários em municipais, mas a verdade é que a população do concelho, nesse mesmo ano, se manifestou preocupada quanto à falta de protecção relativamente à ocorrência de incêndios. Quanto a este ponto, importa referir a queixa manifestada pela Comissão de Melhoramentos da Freguesia de Santo António das Areias, por não ter sido contemplada (como outras localidades do concelho) com bocas de incêndio.
Em 1956, passados apenas 6 anos após o início efectivo da actividade, extingue-se então a Corporação de Bombeiros do Concelho de Marvão, mas porque nada acontece em vão, resta ainda referir que o material da extinta associação foi entregue aos Bombeiros Voluntários de Portalegre, em 1960.
A nova Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Marvão
Se considerarmos que uma das principais dificuldades enfrentadas pelos Bombeiros de Marvão, na primeira fase da sua existência, foi a falta de operacionais para ingressar no corpo activo, tudo nos levaria a pensar que no início do séc. XXI tudo seria ainda mais difícil, pois o concelho de Marvão, desde os anos Cinquenta até à atualidade, tem vindo a perder população. Bem pelo contrário, os Bombeiros de Marvão são hoje uma realidade e uma verdadeira força viva no seu concelho.
Em 2001, Marvão era um dos dois únicos concelhos do país que não tinha um corpo de bombeiros, e até esta altura foram os Voluntários de Portalegre e de Castelo de Vide que asseguraram o combate aos incêndios, o transporte de doentes e as emergências.
Partindo do zero em termos burocráticos e legais, sócios, corpo ativo, material e viaturas ou instalações, os Voluntários de Marvão foram, ainda assim, auxiliados por muitas corporações nacionais que contribuíram de várias maneiras para o sucesso desta iniciativa. O Verão de 2003 proporcionou aos Bombeiros de Marvão um terrível batismo de fogo que o concelho e o país jamais esquecerão, enquanto que 2004 fica marcado como sendo o ano de arranque para a prestação, com regularidade, de serviços de socorro à população do concelho.
Atualmente, os Bombeiros de Marvão prestam serviço de transporte de doentes; serviço de socorro; combate e prevenção de incêndios; apoio a eventos desportivos, culturais e recreativos e abastecimento de água à população, entre outros.
“Sê generoso hoje, pois tu próprio amanhã precisarás”
Este é o lema dos soldados da paz do nosso concelho, um lema que constitui também um apelo para que, cada vez mais jovens adiram à causa dos bombeiros. Ao doarem a sua energia e sua generosidade, os bombeiros respondem a um impulso humano básico: o desejo de ajudar, de colaborar, de compartilhar alegrias, de aliviar sofrimentos, de melhorar a qualidade da vida em comum. Compaixão e solidariedade, altruísmo e responsabilidade, são sentimentos profundamente humanos mas também virtudes cívicas.
A mobilização por causas de interesse social e comunitário estabelece laços de solidariedade e confiança mútua que nos protegem a todos em tempos de crise, tornando a sociedade mais unida e fazendo de cada um de nós um ser humano melhor.